O tamanho do mundo

Uma revolução nas comunicações tem o poder de mudar o tamanho do mundo. A imprensa de Gutenberg é o melhor exemplo. Oficialmente inventada em 1440, na cidade alemã de Mogúncia, por Gutenberg, ourives de profissão e pai da ideia de se usar tipos móveis, fundidos, para imprimir livros. Apenas 40 anos mais tarde já havia tipografias funcionando em mais de 110 cidades situadas em toda a Europa Ocidental. Cerca de 50 anos após o primeiro livro ser impresso, foram produzidas pelos menos 35 mil edições, o que significa 15 milhões de exemplares, talvez até 20 milhões. Numa população europeia de menos de 90 milhões de pessoas, o número é imponente. Entre os anos 1500 e 1600, foram 150 a 200 milhões de exemplares impressos, em 150 a 200 mil edições diferentes. A igreja logo viu uma oportunidade de ampliar o alcance de suas ideias, tornando a Bíblia acessível a mais gente e não apenas em latim, mas em línguas vernáculas. Mais da metade dos livros impressos no século XV eram religiosos. Mas já no século seguinte eram menos de um terço.

Antes da prensa, os livros eram copiados à mão, por copistas, normalmente em mosteiros. Cada livro tinha um valor (e um custo) muito grande, pois eram escassos, e um pesquisador precisava se deslocar grandes distâncias para ler um texto. Se hoje isso seria uma complicação, pense no que ocorria à época. A maneira mais prática de atravessar o continente era a cavalo, melhor mesmo do que de carroça ou outro veículo com rodas, por conta do estado das estradas. Quem não tinha cavalo, caminhava. Mosteiros, hospícios, pousadas e albergues recebiam os peregrinos, mas não era incomum dormir ao ar livre. Havia assaltantes, então melhor viajar acompanhado. Um pequeno grupo com bons cavalos poderia se mover até 50 km em um único dia, mas um grupo maior que incluía animais de carga, um carrinho ou viajantes a pé poderia fazer no máximo metade dessa distância.

Com a prensa e as grandes navegações, os limites dos europeus estavam se alargando e o saber ficava mais próximo.

Pulemos agora ao século XXI. Os transportes e a tecnologia da comunicação também alteraram a nossa relação com o espaço. Primeiro, pelos navios a motor, que fizeram com que uma viagem de navio entre Porto e o Rio de Janeiro, que antes exigia de 45 a 60 dias, fosse realizada em 20 dias ou até mesmo 15. Mas coube à aviação comercial encurtar as distâncias e reduzir os tempos de deslocamento de maneira drástica. Em 1919 foi criada a primeira companhia de transporte aéreo do mundo, a holandesa KLM; e no Brasil, em 1933, a Vasp (Viação Aérea São Paulo) fez suas primeiras viagens ao interior, estabelecendo a rota entre Rio e São Paulo em 1936.

A comunicação digital em rede também reduziu as distâncias e encurtou os tempos. Aumentou o número de nossas interações com pares. Nos aproximou de pessoas que já eram queridas, mas com as quais a comunicação era esparsa. Grupos de WhatsApp mantêm cotidianamente em contato irmãos que moram longe, filhos, amigos espalhados pelo planeta. Ajudam pesquisadores a encontrar bibliografia, trocar ideias, aprender melhor, pensar juntos. Organizam mobilizações, derrubam políticos, condenam pedófilos, promovem mudanças sociais. No total, os usuários de redes sociais somam 3,6 bilhões em 2021 e devem chegar a 4,4 bilhões até 2025. Aplicativos de mensagens estão se fazendo ubíquos. Os números de WhatsApp são impressionantes: em 2020, a rede possuía 1,5 bilhão de usuários no mundo, com mais de 1 milhão somando-se a cada dia; e o Brasil era o segundo país com o maior número de usuários: 120 milhões, só atrás dos 200 milhões da Índia. Messenger tinha 1,3 bilhão de usuários no globo e Wechat 1,2 bilhão.

Para compreender a comunicação na era digital é necessário deixar de lado os modelos usados no século XX, quando a comunicação ainda era analógica. Nosso foco não é a tecnologia em si, e sim o lugar que a comunicação ocupa na vida dos homens. Afinal, a comunicação é um traço existencial do ser humano, algo que nos define como espécie. Somente assim conseguimos compreender a relevância que têm as mudanças tecnológicas nos meios de comunicação das últimas décadas e por que alteraram e estão alterando todos os aspectos da nossa vida.

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